Notícias

20.04.2012 - 14h09
Interromper a vida de um filho ou não?
BUTIÁ - Foi aprovado no Supremo Tribunal Regional, a legalização do aborto no caso de fetos anencéfalos. Nesta edição relatamos algumas opiniões diferentes sobre o assunto e uma entrevista com o Médico Pediatra que explica o que é a anencefalia.
Médico desde o ano de 1984, especializado em pediatria, Drº Nelson Magnanim explica sobre o bebe anencéfalo.
- Anen já está dizendo, sem cérebro, mas às vezes pode ser um cérebro diminuído. Cada parte do cérebro faz um comando no organismo, um comanda o braço, as pernas, a fala, a audição, quando ele está com o seu tamanho reduzido não vai se saber precisar quais as partes que não irão funcionar. Pelas fotos se pode se ver que a cabeça de uma criança normal e a cabeça de uma criança anencéfalo é diferente, muito menor, porque não houve o crescimento da massa encefálica, não crescendo várias habilidades que a pessoa teria que desenvolver não desenvolve e com o tempo acaba não desenvolvendo áreas importantes vindo ao óbito. Segundo o Drº, a mulher descobre a anomalia através de ecografia, onde o médico faz diversas medidas dentro do útero, a partir daí é realizado um acompanhamento, dentro das medidas pode se prever o problema, assim vai se controlando para ter um diagnóstico antes do nascimento da criança.
O Padre Paulo César fala sobre o assunto:
- Vou de acordo com que a Igreja diz, nenhum ser humano por mais pecador que seja tem direito a tirar a vida de outro ser humano, isso pode ser aprovado pela lei civil, mas pela lei divina a lei de Deus não. Essa é a opinião da igreja, ela é contra o aborto, eu como padre dentro da igreja católica sou contra o aborto. Eu possuo uma filmagem que fala sobre o “Grito do silêncio” fala sobre crianças que não podem se defender e são abortadas. Quem tira a vida de um ser humano é um criminoso.
Drº Nelson Magnanim explica sua opinião:
- Na verdade tenho uma opinião dividida, coisas favoráveis e coisas desfavoráveis. Por exemplo, um casal sempre pensa em ter uma família, filhos, e nunca pensa em aborto, em interromper a gravidez que é uma coisa tão sonhada por toda a mulher.
E tem o outro lado que o feto anencéfalo ele tem um período de vida muito curto e tem várias limitações, e a maioria não chega a um ano de idade. É muito difícil dizer sim ao aborto anencéfalo, porque isso é algo íntimo do casal que eles vão decidir se vão querer a criança por um ano ou não , é algo bem complicado de decidir. A decisão sempre é do casal, mas uma decisão muito difícil. Muita mãe às vezes nem que seja por um minuto ela quer ter o seu filho. Embora seja algo cruel de se falar, mas agora nesse caso o aborto vai ser algo legalizado onde o casal vai ver os prós e contra para tomar a decisão.
A mãe Jaqueline que já passou por uma situação parecida, opina sobre a legalização do aborto em fetos anencéfalos:
- Acho o aborto um crime, pois ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, porém se diagnosticado que o bebe tem essa anomalia, e não vai sobreviver, sou a favor do aborto, porque vai evitar tanto sofrimento, para o feto, para a mãe e para os familiares. E mesmo assim para uma mãe é muito difícil acreditar nisso, mas se ter 100% de certeza do problema assim a mãe vai aceitar e vai interromper essa gravidez para evitar tanto sofrimento.

Jaqueline Leite Nunes conta à história de vida da pequena Letícia

Letícia nasceu com Hidrocefalia e má formação congênita e ficou ao lado da família por três meses. Era a 4º gravidez de Jaqueline, que planejou, fez o pré-natal, apenas não fazia ecografias, mas tinha a certeza que estava esperando uma menina. Só com 7 meses fez a sua primeira ecografia.
O Drº então pediu que fizesse uma ecografia mais sofisticada em Porto Alegre porque os ossos do crânio do bebe era maior que os ossos do corpo. A partir daí Jaqueline foi tratada por duas equipes médicas uma do Hospital Presidente Vargas e outra pelo Hospital Santa Casa. Os médicos se interessaram pelo caso, já que este tipo de má formação geralmente ocorre na primeira gravidez, porém já era o quarto filho de Jaqueline.
- Foi difícil, os médicos me preparavam pois o bebê podia não sobreviver. Talvez por minutos, horas, dias, anos, mas não poderiam dizer o tempo exato de sobrevivência. Nunca acreditei estar acontecendo isso comigo, passei uma gravidez muito tranquila, nunca senti nada. Para mim estava muito bem.
Letícia veio ao mundo de parto normal, no dia 11 de dezembro de 1997.
- Ela era linda, perfeita, não tinha nada de anormal, mas correram com ela para sua primeira cirurgia. Foi quando falei ao médico, vocês falaram tanto, que eu imaginava que iria ganhar um monstro, quando vi minha menina, era a coisa mais linda, parecida com o meu filho Rafael, relembra a mãe que continua seu relato,
- Foi um sofrimento constante, eu não podia trazer Letícia pra casa, ela dependia de oxigênio. Conforme o tempo passava ela foi modificando a fisionomia. Na verdade eu sabia, mas não queria acreditar a partir daí foi caindo a ficha. A má formação de Letícia era interna, pulmão, coração e rim. Os médicos nunca souberam me explicar o porque desta ma formação de Letícia, relata a mãe.
No mês de fevereiro de 1998, Letícia ganhou alta e veio para casa. Foi realizado seu batizado, e após 5 dias teve que retornar ao hospital por causa de uma febre e no dia 6 de março devido a todos os seus problemas, Letícia acabou falecendo.
- Foi muito difícil, enquanto ela estava dentro de mim eu sofria sabendo que tinha esse problema e que ela poderia não sobreviver, e depois que ela nasceu, ela sofreu muito pela quantidade de cirurgias que fizeram, diz a mãe.
Emocionada, Jaqueline diz que ficou ao lado da filha em todos os momentos, chegando a pedir aos médicos para deixar a filha dentro de seu ventre porque ali ela estaria mais segura. Fez tudo o que podia nestes 3 meses lutando por sua vida, mas confessa que o sofrimento foi grande, tanto dela como da filha Letícia.